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Uma homenagem do Gepud à querida Lisete Arelaro


24/03/2022

Lisete no evento Atualidade e Contribuição de Paulo Freire à Educação, em outubro de 2018, na UNIFESP.

Em 19 de outubro de 2018, foi realizado no auditório da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo um evento intitulado Atualidade e Contribuições de Paulo Freire à Educação, com a participação da professora emérita da Faculdade de Educação da USP, Lisete Arelaro, que havia trabalhado com Paulo Freire na gestão da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989-1992) e que, naquela ocasião, tinha acabado de participar da campanha eleitoral para o governo do estado de São Paulo, como candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

O evento foi organizado por três escolas de educação básica de Guarulhos, EE Vereador Antonio de Ré, EE Professor Antonio Viana de Souza e EE Pimentas VII, pelo Grupo Estudo e Pesquisa em Política Educacional Gestão Escolar (Geppege) e pelo Grupo de Estudo Paulo Freire da Unifesp.

O auditório estava lotado, todos/as muito animados/as para ouvir a professora Lisete, que proferiu uma excelente palestra sobre o legado de Paulo Freire na Educação. Na sequência de sua fala forte, surgiram muitas perguntas e considerações para pensar a escola numa perspectiva freiriana. O entusiasmo do momento gerou não apenas inquietação sob a forma de perguntas e considerações, mas gerou, naquele grupo de professoras e professores que após um dia de trabalho se dirigiram para o Campus Guarulhos da Unifesp, a disposição para iniciar uma parceria com o intuito de pensar a escola pública de forma dialógica e crítica. Produziu-se uma práxis educacional que até os dias atuais une universidade e escola de educação básica.

Foi desta forma, pela força, inspiração e contribuição da professora Lisete que o Grupo Escola Pública e Democracia (GEPUD) começou suas atividades. A primeira reunião foi realizada ainda em novembro de 2018 e um novo encontro foi marcado para 24/01/2019, quando participou um grupo de professores de Embu das Artes e Itapecerica da Serra, que havia contatado a professora Mariângela Graciano em busca de uma parceria com a Unifesp.

Nas reuniões mensais que se seguiram, outros/as professores/as da educação básica, principalmente vinculados à rede estadual de ensino paulista, somaram-se ao grupo, formado em sua maioria por profissionais que ocupavam o cargo de direção e a função de professor/a coordenador/a nas escolas em que trabalhavam. Duas questões principais mobilizavam o interesse do grupo: estudar as políticas educacionais da Secretaria de Educação (Seduc) de forma crítica e construir uma práxis educacional que não fosse apenas expressão da implementação das propostas da Seduc.

Os primeiros encontros foram permeados pela socialização da compreensão que os/as participantes tinham em relação às políticas educacionais e sobre o papel e objetivos que o grupo deveria ter. Aos poucos e de forma sempre coletiva foi sendo delineada a atuação do grupo. Estudos foram sendo realizados, especialmente sobre o Programa Inova Educação, implantado pela gestão do governador João Dória e do secretário de educação Rossieli Soares e iniciou-se um processo participativo de construção de uma proposta mais próxima à realidade das escolas, dos seus Projetos Políticos Pedagógicos e daquilo que o grupo compreende como parte constitutiva de uma educação de qualidade socialmente referenciada a ser ofertada aos jovens em condições de subalternidade que estudam nas escolas públicas paulistas.

A partir das reuniões iniciais, ocorreu o primeiro seminário do grupo no mês de maio do ano de 2019, intitulado Escola Pública e Democracia na Atualidade, com participação das comunidades das escolas, representadas por professores, estudantes, mães/pais/responsáveis, e, mais uma vez, contou-se com a participação/contribuição da professora Lisete que, naquele momento fez uma precisa análise da situação política do país pós-impeachment da presidenta Dilma Rousseff e da eleição de Jair Bolsonaro, trazendo importantes elementos para pensar a educação nacional e paulista numa conjuntura regressiva, conservadora e com traços autoritários. Também nos ajudou a análise detalhada e crítica das políticas educacionais paulistas de Fernando Cássio, da Universidade Federal do ABC, que dividiu a mesa do seminário com Lisete. O seminário também foi fundamental para a consolidação do grupo.

No segundo semestre daquele ano foram realizados mais dois seminários intitulados Escola Autônoma e Democrática: Isso Inova, um deles em setembro na EE Fernão Dias e outro em novembro no auditório da Apeoesp. Nestes dois momentos demos continuidade às discussões sobre o Inova Educação a partir dos apontamentos das escolas, parte da preparação e elaboração de propostas para os seminários. Foi um importante processo de socialização, elaboração e síntese que permitiu ao grupo, no seminário de novembro, aprovar uma proposta de temáticas para as disciplinas, com conteúdos e objetivos para o Programa.

As adversidades trazidas pela pandemia dificultaram a realização da proposta no ano de 2020. Entretanto, o grupo manteve as reuniões no formato virtual, mas ocupou-se, principalmente, das demandas do contexto pandêmico e das medidas da Seduc sobre a suspensão das atividades presenciais e o ensino remoto. Mantivemo-nos atuantes na produção de notas e estudos, especialmente em parceria com a Rede Escola Pública e Universidade (REPU). Este também foi um ano difícil para a professora Lisete na luta contra o câncer. Ela reduziu o ritmo das atividades, mas a sentíamos sempre presente.

Em 2021, ano do Centenário de Paulo Freire, Lisete participou de uma infinidade de atividades, ela havia se recuperado e estava novamente envolvida na luta em defesa da escola pública, laica, de qualidade socialmente referenciada para todos/as e por uma sociedade com justiça social e democrática, uma sociedade socialista.

Lisete era para o Gepud a eterna mestra a quem o grupo recorria quando tinha dúvidas, necessidade de uma opinião ou de uma orientação, mas também a ela recorria em busca de uma inspiração, para ficar mais “animadinho/a” diante das adversidades e das dificuldades. Parecia que o tempo era infinito para ela, pois sempre podia atender as grandes e pequenas demandas, assim como as necessidades políticas, educacionais, pessoais/afetivas. Havia sempre um sorriso cativante, um gesto de carinho. As palavras usadas eram sábias, a fala ponderada, precisa, firme e terna. Assim eram os encontros de trabalho, de militância e de festa com a nossa sempre presente professora Lisete.